A atriz, diretora e cantora Jeanne Moreau, morreu nesta segunda-feira (31/07), aos 89 anos, deixando para a história lembranças de sua figura cativante e uma ampla trajetória no mundo das artes, que escandalizou uma França puritana e rendeu a ela o título de a grande dama do cinema francês.
Nascida em Paris, em 23 de janeiro de 1928, de pai francês e mãe britânica, Jeanne começou a estudar pedagogia, mas se encantou pela atuação, apesar da oposição da família. Aos 19 anos, foi admitida no prestigiado teatro Comédie-Française e em 1950 ganhou seu primeiro papel de destaque no palco, com “Les Caves du Vatican”, onde vivia uma prostituta, na peça inspirada no livro “Os Porões do Vaticano”, de André Gide (Ed. Estação Liberdade).
“Ascensor para o Cadafalso” (1958), de Louis Malle, fez com que ela alcançasse o estrelato, enquanto que “Uma Mulher para Dois” (1962), de François Truffaut, a transformou em uma lenda, de acordo com a imprensa francesa. Naquela época, a musa da Nouvelle Vague já tinha conseguido o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes por “Duas Almas em Suplício” (1960), de Peter Brook, seu primeiro contato com o festival que ela veio a presidir depois em 1975 e 1995, única atriz a desempenhar essa função duas vezes.
Jeanne, que dizia que o cinema não era uma carreira, “mas uma vida”, colocou seu talento nas mãos de Louis Malle (“Amantes”, 1958), Michelangelo Antonioni (“A Noite”, 1962); Luis Buñuel (“O Diário de uma Camareira”, 1964) e Elia Kazan (“O Último Magnata”, 1976), entre outros.
“Melhor atriz do mundo”
“A melhor atriz do mundo”, disse Orson Welles, que a dirigiu em “O Processo”, em 1962, e seis anos depois em “História Imortal”. Foi ele quem a incentivou a tentar um trabalho atrás das câmeras. Depois disso, assinou “No Coracao, a Chama” (1976), “L'adolescente” (1979), e o documentário “Lillian Gish” (1983).
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Agência Efe
Moreau, ao receber o prêmio César honorário, em 2008
Entre os seus últimos trabalhos como atriz, estão a comédia “Le talent de mes amis” (2015), de Alex Lutz, e “Uma Dama em Paris” (2012), de Ilmar Raag. Na TV, participou de cinco episódios da série “ER”, na qual viveu uma astrofísica, e da minissérie “Os Miseráveis”.
O Leão de Ouro, do Festival de Veneza, pelo conjunto da obra, em 1992, o Oscar honorário, em 1998, por exemplo, dão conta do prestígio que teve como atriz. Um talento recompensado também com o César de melhor atriz, em 1992, por “La vieille qui marchait dans la mer”, de Laurent Heynemann, um César Honorário, em 1995, e o “Super César”, em 2008.
A atriz, que cantou “Le Tourbillon”, em “Uma Mulher para Dois” e com a qual Vanessa Paradis a homenageou em 1995 em Cannes, também foi presidente da Associação Equinoxe e apoiou jovens cineastas europeus.
Jeanne Moreau se casou em 1949 com o cineasta francês Jean-Louis Richard, com quem teve seu único filho, Jérôme Richard. O casal se separou um ano depois e, após um breve romance com Teodoro Rubanis, se casou com o diretor americano William Friedkin, em 1977. Durante a vida, também teve relacionamentos com Louis Malle e com o estilista Pierre Cardin.
“Seduzi muitos homens. Sempre tive uma queda pelos talentosos. Não tive amantes por ter”, disse ela, certa vez, lembrada pela imprensa francesa como uma mulher livre e independente.
O governo francês emitiu um comunicado destacando a sua importância para o mundo do cinema e afirmando que Jeanne Moreau é um resumo da arte.
“Com ela desaparece uma artista que encarnava o cinema em sua complexidade. Tal era sua liberdade que constantemente reivindicava as causas em que acreditava e se rebelava contra a ordem estabelecida como rotina”, afirmou o presidente francês, Emmanuel Macron, na nota.
(*) Com Efe