Um país com pouco tempo de democracia – pouco mais de 30 anos – passando por uma crise política e econômica que pode resultar na traumática saída da Presidenta Dilma Rousseff. Dos mais moderados aos mais diretos, os veículos estrangeiros concordam: é tentativa de golpe o que está em andamento no país.
A revista britânica The Economist, por exemplo, coloca dúvidas sobre o processo: “Advogados discordam sobre a constitucionalidade 'das pedaladas'. As outras alegações permanecem sem provas (Dilma nega)”, não acredite em mim, leia você mesma(o).
Agência Efe
Vazamento dos áudios de Lula ao telefone causou espanto na mídia internacional
As divulgações dos áudios de Lula ao telefone, especialmente os que envolvem a Presidenta Dilma, não causaram espanto apenas no ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello. O responsável por um dos maiores furos de notícia do século, Glenn Greenwald – o jornalista procurado por Edward Snowden para denunciar o esquema de espionagem da agência norte-americana NSA – foi enfático no artigo “O Brasil está sendo engolido pela corrupção – e por uma perigosa subversão da democracia”.
Greenwald não poderia ser mais direto: “(…) Mas os plutocratas brasileiros, a mídia, e as classes altas e médias estão explorando essa corrupção para atingir o que eles não conseguiram por anos de forma democrática: remover o PT do poder” {{não acredite em mim, The Intercept}}.
Snowden, por sua vez, também não perdeu a chance de ironizar os grampos: “'Going dark' é um conto de fadas: três anos depois das manchetes de escutas de Dilma, ela continua fazendo ligações não criptografadas”.
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Greenwald foi além, foi à TV americana e denunciou o golpe:
É claro que há uma parte da imprensa internacional que reproduz o discurso dominante por aqui, de que 'o povo' está contra a Presidenta, ainda que seja difícil acreditar quando as fotos dos protestos (ou Copa?) não chegam nem perto de mostrar a diversidade étnica presente na terra de Macunaíma. Considere-se o fato de que as vozes contraditórias do Brasil são abafadas por jornais diários da grande mídia, e é absolutamente ordinário esperar a mesma reprodução dos gringos. Mas existe vida para além da bolha midiática que os seguidores de Bonner tentam criar.
Sérgio Moro, o juiz de 1ª instância que grampeou uma Presidente, se não buscava notoriedade, correu o caminho contrário. Na Alemanha, a revista Der Spiegel afirmou que o juiz faz política e que a quebra de sigilo das escutas telefônicas entre Lula e Dilma perseguiu fins políticos. {{ não acredite em mim, Der Spiegel }}
ONU e OEA também manifestaram preocupação quanto às ameaças à democracia no Brasil. Nas palavras de seu porta-voz, a ONU solicitou que as autoridades policiais e judiciais no país sejam “escrupolosas” e mantenham suas ações dentro das leis domésticas e internacionais, a fim de não tomarem partido em nenhum dos lados políticos que se engalfinham neste momento, leia por si.
O secretário da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, afirmou que nenhum juiz está acima da lei que deve aplicar e da Constituição que dá garantias ao seu trabalho. “Um grande respeito pela Presidente Dilma Rousseff, que demonstra um claro compromisso com a transparência institucional”, manifestou Almagro, sem citar o juiz de Curitiba. {{não acredite em mim – OEA }}
Enquanto isso, na Inglaterra, The Sunday Times publicava “Brazil's Elliot Ness 'out of control'”, uma referência ao agente estadunidense que capturou Al Capone (contrabandista famoso por fazer fortuna com a lei seca) e teve sua reputação desmoronada após fugir de um acidente de trânsito provocado por ele mesmo. A matéria inglesa faz uma série de considerações a respeito do mais novo herói nacional (como andaria o ego de Joaquim Barbosa diante de seu substituto?), como a possibilidade de concorrer à presidência em 2018 e sobre as arbitrariedades em relação às prisões, como a de Marcelo Odebrecht, então preso por não concordar com uma delação premiada. E que algumas semanas depois “liberou” a empresa e seus funcionários a delatarem quem quisessem.
Na Espanha, o El País não usa meias palavras. Por lá o título é “Brasil: de la anticorrupción al golpe”, em um artigo que ressalta o óbvio – a importância do combate à corrupção – mas que vai além e afirma que a simultânea e tortuosa instrumentalização política desse combate, com o objetivo da destituição ou renúncia da Presidenta Dilma. {{ não acredite em mim – El País }}
Na Venezuela, Telesur vai na linha do El País (ou seria o contrário?) e afirma “Denuncian inicio de golpe parlamentario contra Dilma Rousseff” ao lembrar do óbvio, tão esquecido na imprensa tradicional; o de que o autor do golpe (Cunha) é corrupto e não é de hoje.
O italiano (e comunista) Il Manifesto há muito que denuncia o caráter golpista deste impeachment. Na cobertura da última grande manifestação das direitas no país, o jornal italiano afirmara “os brancos se ressentem” das políticas sociais dos governos Lula e Dilma, além de denunciar a ausência de cobertura dos inúmeros ataques em sedes de partidos e organizações de esquerda. E você já sabe, não acredite em mim.
O francês L'Humanité vai na mesma linha e afirma que as manifestações contra a Presidenta são motivadas pela perda de privilégios que a direita tem sofrido nos últimos governos.
Se por aqui a voz que impera é a do combate à corrupção, quando buscamos um olhar mais global (ou seria um olhar menos Globo?) as vozes ecoam de outras formas. Buscar a corrupção é unanimidade desde que o mundo é mundo. A democracia, não.
(*) Victor Amatucci é editor do Blog ImprenÇa {{não acredite em mim}}