Dez mil clitóris gigantes colados por toda a França. Foi assim que começou uma das mais ousadas ofensivas do grupo feminista francês “Osez le feminisme” [Ouse o feminismo], em junho deste ano. Espalharam pelo país cartazes da campanha “Osez le clito” [Ouse o clitóris]. O programa também conta com uma página do Facebook e um site dedicado ao assunto, no qual se pode encontrar uma coleção de poemas, cursos de educação sexual e vídeos.
“A liberação sexual não terminou”, explica Caroline de Haas, presidente do movimento. “Por exemplo, a última exposição para crianças sobre sexualidade no Parc de la Villette (a exposição Le zizi sexuel) explicava que o clitóris servia para fazer pipi. É como se nos explicassem que podemos passar no exame para carteira de motorista com um carrinho de mão”, ironiza ela.
A iniciativa é louvável e o site reúne informações não necessariamente novas, mas interessantes sobre o clitóris. “Dominar o seu corpo passa também pelo conhecimento do seu prazer”, detalha Caroline de Haas. Mas, quando o site se lança à descrição do “órgão supremo do prazer feminino”, nós franzimos as sobrancelhas. A explicação traz esquemas muito científicos, que lembram as aulas de biologia no ginásio. Temos dificuldade para ler a página até o fim. Por exemplo: “O corpo do clitóris curva-se em seguida para baixo e divide-se em duas raízes que medem cerca de 5 cm de comprimento e 7 mm de diâmetro e estendem-se ao longo do osso ílio. esses pilares do clitóris formam um V invertido.”
Se você não entendeu tudo, pode dar uma olhada no cartaz da campanha. Ele também resume por si só a polêmica levantada pela campanha. Criado pelo jornalista e sexólogo Damien Mascret, ele representa um clitóris gigante, uma espécie de reinterpretação do quadro “A origem do mundo”, de Gustave Corbet. O cartaz tem provocado muitas críticas, inclusive das mulheres.
“Chocar, por que não?”, defende Gaëlle-Marie Zimmermann, jornalista e blogueira do ZoneZéroGêne [trocadilho de “zona erógena]. “Mas qual é a mensagem? Elas fariam melhor em espalhar cartazes com as ideias pré-concebidas sobre o órgão do que em desenhar um clitóris gigante e que fracassa no seu intento.”
Para essa militante feminista, a campanha oculta, sobretudo, uma operação eleitoreira. “É oportunismo político”, denuncia. “É feminismo com purpurina. O Partido Socialista precisa de uma causa feminista, que a OLF lhe oferece de bandeja.”
Suspeitas que Caroline de Haas, também porta-voz de Benoît Hamon, um dos nomes fortes do PS francês, desmente apenas pela metade. No momento, a campanha não prevê outras ações agressivas, entretanto, ela avisa: a “Osez le féminisme” quer fazer da educação sexual “uma questão prioritária nas eleições de 2012”.
Depois da ecologia, da discussão nuclear e dos aposentados, o clitóris será a questão eleitoral de 2012?
Tradução Barbara Menezes
Texto publicado originalmente no site da revista Les Inrocks
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