Ônibus “mehadrin” em Israel, em foto de 2006 via Wikimedia Commons
Em dezembro de 2011, Tanya Rosenblit, de 28 anos, entrou em um dos ônibus que fazem o percurso de 85 km entre as cidades de Ashdod e Jerusalém, e se sentou em um banco na parte dianteira do veículo. Um judeu ultra-ortodoxo exigiu que ela fosse se sentar na parte de trás, e ao receber a recusa, impediu que o ônibus partisse, convocando outros passageiros para o protesto. A polícia foi chamada, e o policial, em lugar de acalmar os passageiros raivosos, insistiu que Rosenblit fosse se sentar no fundo do ônibus. Ela não cedeu, e eventualmente o coletivo partiu, sem o passageiro que iniciou a confusão. “O respeito ao outro não pode passar pela minha humilhação”, escreveu ela sobre o episódio.
As “mehadrin”, linhas de ônibus com segregação sexual, foram consideradas ilegais pela Suprema Corte israelense em 05 de janeiro de 2011. Mesmo assim, em muitos ônibus as mulheres continuam sendo obrigadas a ir para o fundo, e aquelas que se atrevem a permanecer na frente tem que enfrentar a indignação de muitos passageiros e passageiras, ataques verbais e até violência física.
“Todos os passageiros tem o direito de ocuparem o assento que desejarem; assediar um passageiro por esta razão pode ser considerado crime” | Foto via Wikimedia Commons
Na revista Tablet, a jornalista Diana Bettler conta sua experiência como “Freedom Rider”, ou passageira da liberdade, um grupo de voluntárias e voluntários baseado em Jerusalém que monitora a obediência à determinação da Suprema Corte, deixando claro que as mulheres podem se sentar onde elas bem entenderem. “A segregação de mulheres nos ônibus simboliza algo bem maior do que um simples arranjo de assentos. É parte da agenda de uma pequena minoria de extremistas dentro da comunidade ultra-ortodoxa (que é ela própria uma minoria) para manter as mulheres não só no fundo do ônibus, mas no fundo do espaço público israelense”, escreve Bettler.
Em sua experiência como “passageira da liberdade”, a jornalista foi repreendida por uma mulher que lhe disse que a segregação nada tem de discriminatório: “é por modéstia, por respeito aos homens.” Um grupo de adolescentes a chamou de “nojenta” e investiu também contra uma senhora de 64 anos, carregada de sacolas de compras, que também quis se sentar na frente. “Vão vocês se sentar lá no fundo”, respondeu a idosa. “Se este fosse o carro de vocês, vocês poderiam me dizer onde me sentar, mas este ônibus é público, é para todos.”
Nas linhas de ônibus comuns é proibido o embarque de mulheres pela porta de trás, justamente para evitar a segregação. Segundo a Tablet, o Ministério dos Transportes do país está inclusive estudando a possibilidade de banir definitivamente o embarque de passageiros pela porta traseira – uma determinação extrema, mas que obrigaria homens e mulheres a usarem as mesmas entradas e saídas e entrarem em contato direto dentro dos ônibus. “Não é uma questão de modéstia, mas de igualdade”, acredita Neta Ravid, que ajudou a fundar a campanha “Freedom Riders” após ser agredida por um homem dentro de um coletivo. “Empurrar as mulheres para o fundo do ônibus leva à ideia de que elas tem que se esconder. Isso terá resultados desastrosos para a sociedade israelense.”
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