Foto por David Fedele via mongabay.com
Você sabe para onde vão os seus aparelhos eletrônicos após serem descartados? O cineasta David Fedele foi até Agbogbloshie, uma favela em Acra, capital de Gana, para documentar o lixão dos eletrônicos. O que ele viu e registrou se tornou o filme e-wasteland, que captura o horror do maior depósito de lixo eletrônico do mundo em imagens surreais e surpreendentes. Filmado em três semanas, é uma experiência inteiramente visual, sem diálogos ou narração, e está disponível integralmente no site e-wastelandfilm.com.
“Eu queria apresentar visualmente um ambiente muito peculiar, mostrá-lo da maneira mais verdadeira possível, e dar às pessoas a responsabilidade de pensar sobre essas questões por si mesmas”, disse Fedele em entrevista ao site mongabay.com. “Acredito que imagens podem ser bem mais poderosas do que palavras, e elas podem ter um impacto bem maior e permanecem na memória por muito mais tempo.”
Cerca de 40 mil pessoas vivem em Agbogbloshie, a maioria migrantes vindos da zona rural do país que ganham a vida desmantelando e queimando lixo eletrônico para transformá-lo em materiais brutos, que então são revendidos. Para Fedele, a favela é um subproduto da “obsessão obscena do mundo ocidental em consumir, descartar e depois consumir de novo”.
“Minha intenção é mostrar que estes objetos tão caros que nós compramos, assim que eles ficam velhos ou quebram, não são nada mais do que pedaços de plásticos, metal, substâncias químicas e outros materiais. Foi isso o que mais me impressionou em Agbogbloshie. Eu via uma máquina copiadora, mas eles viam cobre, metal, placas de processamento… e um monte de plástico no caminho! E é tudo por dinheiro. A copiadora só tinha valor porque suas partes eram valiosas para alguém. Mas como copiadora mesmo, era completamente inútil.”
O lixo eletrônico contém materiais extremamente tóxicos, como chumbo, arsênico, cádmio e mercúrio. Essas toxinas contaminam o ar, a água e os alimentos consumidos na favela. Após ser desmantelado, o material bruto é exportado de volta para o mundo industrializado, “deixando para trás um rastro de doenças, poluição e destruição ambiental em Agbogbloshie”.
Para o cineasta, “é essencial que nós entendamos que tomamos decisões todos os dias que diretamente ou indiretamente afetam outras pessoas em outros lugares do planeta. A verdade é que os eletrônicos são uma parte cada vez mais importante e necessária na sociedade atual, de que todos fazemos parte, inclusive eu. Eu estou aqui sentado digitando no meu Mac, fiz o filme com uma câmera de vídeo digital, e estou pedindo que as pessoas assistam ao meu filme online.”
O problema, diz Fedele, é o consumismo desenfreado e a falta de informação sobre a origem e o destino dos produtos que adquirimos: “Ouvimos que nós 'temos' que ter isso, que 'não podemos ficar sem' aquilo, mas não nos falam sobre as consequências dessa sequência contínua de comprar, jogar fora e comprar de novo. Portanto eu diria que a coisa mais importante que podemos fazer é nos responsabilizar por nossas decisões e ações, e perceber que não necessariamente precisamos fazer parte deste ciclo contínuo de atualização dos nossos eletrônicos. E também nos informar o máximo possível sobre de onde vem as coisas que compramos, e para onde elas vão quando acaba a sua vida útil. E especialmente com relação aos eletrônicos, a coisa mais simples que as pessoas podem fazer é procurar saber como o aparelho será descartado, e se certificar de que ele será reciclado de uma maneira ecologicamente responsável.”
e-wasteland – Trailer from David Fedele on Vimeo.
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