Sócios da AMAP negociando a compra dos produtos agrícolas; eles recebem uma 'cesta' semanal de vegetais
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Se há um assunto sobre o qual quase todos os políticos franceses estão de acordo é o “crescimento”. Todos o defendem! Impossível perguntar a eles sobre economia, desemprego, dívida sem ouvir automaticamente a resposta “é preciso voltar a crescer”, “abaixo de dois pontos de crescimento não se cria empregos”.
Os “decrescentistas”, no entanto, pensam diferente: para eles, o bolo não pode mais continuar crescendo (não há mais farinha, e começa a faltar açúcar e fermento). A Terra é finita, a terra habitável é finita, o mar é finito, a água potável é finita, as terras cultiváveis são finitas, a energia extraída do subsolo é finita, da mesma maneira como as fontes minerais. O petróleo é o exemplo mais ilustrativo hoje. Ora, um crescimento econômico sem fim só seria teoricamente possível se cada um desses elementos fossem também infinitos.
O termo “decrescentista” teria, segundo alguns, uma conotação negativa e não atraente. Ele poderia nos fazer acreditar que – como eles combatem a ideologia do crescimento — os decrescentistas desejariam exatamente o contrário, ou seja, a maior baixa possível do PIB. Para evitar este inconveniente, algumas pessoas cunharam o termo “objector de crescimento”. Os OC classificam sua ação em quatro níveis.
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As ações individuais
Mais comumente chamado de “simplicidade voluntária”. Exemplos simples: sair para comprar pão a pé no lugar de pegar o carro. Pegar transporte público para ir ao trabalho no lugar de tirar o carro da garagem. De forma geral, trata-se de fazer a escolha de abandonar objetos ou atitudes socialmente ou ecologicamente nocivas, que no entanto todo mundo ou quase possui ou adota por influência da publicidade, da moda, do mimetismo universal ou simplesmente por hábito, e finalmente para não se “comportar mal”.
Mas como ninguém é obrigado atualmente a adotar este modo de vida e, muito pelo contrário, tudo nos leva a agir de forma inversa, os corajosos que o fazem são considerados excêntricos, ou pior, loucos.
As ações coletivas
Entre estes “objectores de crescimento”, podemos classificar os AMAP, os SEL, ou ainda os “Cidades Vagarosas”.
A Association pour le Maintien d’une Agriculture Paysanne (Associação para Manter uma Agricultuira Camponesa – AMAP) é um grupo de produtores agrícolas cuja produção é negociada antes com consumidores membros da associação. Em troca deste investimento e de uma ajuda de vez em quando, o consumidor se beneficia de uma “cesta” semanal de frutas, legumes, às vezes ovos, queijo e carne.
O Sisteme de d’Échange Local (Sistema de Troca Local – SEL) é uma moeda alternativa, virtual e local, que funciona na contramão dos fundamentos do que deveria ser uma moeda: neste sistema, a moeda de troca não permite enriquecer dormindo, não tem taxa de juros, menos ainda aplicações na bolsa, ações, obrigações, produtos derivados ou fundos de investimento.
A “Cidade Vagarosa” é uma cidade que se engaja em promover a qualidade de vida dos seus habitantes, do meio ambiente, da alimentação, da convivência, através de uma série de medidas inspiradas no modo de vida das comunidades rurais.
As ações de visibilidade
Antes de impor suas ideias, é preciso conhecê-las. Desprovidos de meios financeiros, pregando a sobriedade, fazendo o elogio da lentidão, como os decrescentistas podem se tornar visíveis e audíveis num mundo ultraliberal e concorrencial, onde os “concorrentes” detêm todas as mídias e propõem sem vergonha uma sociedade quimérica de abundância e crescimento infinito? A visibilidade também passa pela apresentação de candidatos objectores de crescimento em diferentes eleições, o que não é simples quando não se tem meios suficientes e experiência.
As ações para a sociedade
Como os objectores de crescimento veem o futuro, quais são os objetivos e os meios para alcançá-los? Ao contrário da maior parte dos partidos políticos, os grupos que defendem a objeção ao crescimento são muito recentes e desconhecidos do grande público. Surgiram algumas estruturas políticas, como o Parti Pour La Décroissance (Partido pelo Decrescimento), o Mouvement d’Objecteurs de Croissance (Movimento dos Objectores de Crescimento) e o Parti des Objecteurs de Croissance (Partido dos Objectores de Crescimento).
Mas alguns OC não querem “fazer política”, porque eles perceberam, como todo mundo (e muito mais do que todo mundo), que a política tal como é praticada não tem nada a ver com a sociedade a qual eles aspiram. Nestas condições, como apresentar candidados nas eleições? A esta questão, podemos nós objetar dizendo que nada os proíbe de fazer política de outra maneira.
Diante deste quadro, a perspectiva de futuro ainda não é muito alvissareira. Mas por enquanto esta é a única saída possível para colocar em campo as ideias do decrescimento e de fomentá-las junto a opinião pública para, assim, ter alguma perspectiva de triunfo um dia.
Tradução por Pedro Noto
* Texto publicado originalmente no Le Blog de SuperNo
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