Dinheiro nos paraísos: Bermudas, Ilhas Virgens e Cayman recebem 40,6% do investimento externo de Hong Kong
Saiba o que mais foi publicado no Dossiê #04: Comissão da Verdade
Leia as outras matérias da edição nº 4 da Revista Samuel
A América Latina tem se tornado o mercado preferido dos chineses, abocanhando mais de 12% do investimento externo direto do país, de acordo com um relatório do HSBC de abril de 2011. Entretanto, o Brasil ficou com somente 0,2% do total, seguido por Peru e Venezuela, os únicos outros países com mais de 0,1%. A maior parte deste dinheiro foi para os paraísos fiscais caribenhos, que juntos ficaram com 93% de todo o investimento externo da China na América Latina, de acordo com o mesmo relatório.
Estranhamente — ou talvez não —, Bermudas, Ilhas Virgens Britânicas e Ilhas Cayman somam 40,6% de todo o investimento externo de Hong Kong, de acordo com o Relatório Mundial de Investimento da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) de 2010. “Descrever corretamente a natureza dos investimentos chineses no exterior é um desafio”, segundo o relatório De saída: um panorama do investimento externo chinês, da Comissão EUA-China sobre Economia e Segurança, do Congresso estadunidense. “Uma parte significativa dos investimentos chineses é direcionada a paraísos fiscais, dificultando o discernimento do destino final destes fundos”, observa o relatório.
Igualmente complicado é identificar quem está fazendo estas movimentações na China. De onde quer que o dinheiro esteja saindo, é provável que ele permaneça sob sigilo.
Apoie a imprensa independente e alternativa. Assine a Revista Samuel.
Paraísos fiscais
A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) estima que o investimento estrangeiro direto (IED) em território latino-americano tenha chegado a 15 bilhões de dólares em 2010, dobrando os investimentos cumulativos da China nas últimas duas décadas. E apesar de os paraísos fiscais ficarem com quantias consideráveis, as empresas chinesas têm investido em vários setores, como recursos naturais, indústria, telecomunicações e outros.[
Além do dinheiro que sai diretamente da China, que soma 36,4% do investimento direto recebido por Hong Kong, estas transações fazem do território autônomo, que tem somente 7,1 milhões de habitantes, o quarto maior receptor de IED do mundo, com 48 bilhões de dólares. É o maior na Ásia logo depois da própria China e quase três vezes maior do que sua rival Singapura, com 17 bilhões em 2009, de acordo com dados da Unctad.
Dinheiro vivo
Hong Kong é também o quinto maior investidor externo no mundo, atrás de Estados Unidos, França, Japão e Alemanha, com 52 bilhões de dólares em 2009. O que pode parecer puro e simples investimento, porém, pode não ser tão simples assim. Mas de onde quer que venha e para onde quer que vá o dinheiro, Hong Kong se beneficia. “Eu não quero recriminar Hong Kong, mas é óbvio que há dinheiro ilegal passando pela cidade”, diz Enzio von Pfeil, CEO da Economic Time Fund Ltda. “Há alguns sinais bem claros. O setor imobiliário de luxo está em alta, e não é uma bolha. As pessoas estão vindo do continente com dinheiro vivo para comprar estas propriedades.”
Tradução por Carolina de Assis
* Texto publicado originalmente no site independente Asia Sentinel
NULL
NULL