Relatórios recentes e um especial da revista Time, publicado em junho, mostraram que o nicho que mais cresce na grande e multifacetada indústria de filmes adultos do Japão é a pornografia feita por e para idosos.
O mercado de pornografia para idosos — chamada por alguns de “pornô do vovô” — duplicou na última década, contou à Time um produtor de filmes com “mulheres maduras”; o setor parece estar desfrutando do que pode ser chamada sua “era de ouro”. Um estudo recente sobre a população japonesa mostrou que, em 2025, 27%, ou 33,2 milhões de pessoas, no Japão terão mais de 60 anos. Conclui-se, portanto, que o mercado para esse público, assim como para os atores, está crescendo. O fato certamente não foi subestimado pelos empreendedores da indústria cinematográfica adulta, no ramo altamente competitivo da pornografia.
Estudos sugerem que o “pornô idoso” — constituído de vídeos adultos com “atores” que frequentemente estão na casa dos 70 anos — parece preparado para ser a próxima mina de ouro no bilionário setor da pornografia japonesa. Nos últimos anos, estima-se que milhares de produções usando talentos mais velhos, ou mesmo idosos, foram lançadas no mercado doméstico de pornografia. Algumas chegaram a ser exibidas no exterior.
Shigeo Tokuda em loja de vídeos no Japão: ator de 74 anos já apareceu em mais de 350 filmes para idosos
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Identificação
Ter uma vida sexual ativa na idade madura é perfeitamente normal. No entanto, lançar-se em uma nova carreira como porn star septuagenário é estranho, se não inacreditável. Tome-se como exemplo Shigeo Tokuda (nome artístico), de 74 anos, que nos últimos 14 anos, desde sua aposentadoria, apareceu em mais de 350 filmes adultos, como Treinamento maníaco de lolitas (2004) e Assistência proibida aos idosos (2006).
Segundo a Time, “a mais nova série de filmes de Shigeo Tokuda mostra-o como um diplomático senhor que instrui mulheres de diferentes idades nas artes eróticas; ele pode se gabar de uma obra mais impressionante do que a da maioria dos jovens atores”.
Tokuda acredita que há uma única audiência com a sua faixa etária. “As pessoas idosas não se identificam com os roteiros cheios de colegiais”, diz, mencionando o padrão da indústria japonesa. “As pessoas da minha idade normalmente se sentem envergonhadas e, por isso, hesitam muito em mostrar seus corpos nus”, disse Tokuda na entrevista recente para a Time. “Mas eu tenho orgulho de conseguir fazer algo que eles não podem. Isso não significa que posso sair por aí falando sobre o emprego que complementa minha aposentadoria.”
Se Tokuda quiser falar de negócios com um artista de mentalidade semelhante, ele talvez tenha de ir até a Rússia, onde David Bozdoganov, de 75 anos, também se tornou uma lenda da pornografia. A história de Bozdoganov, como apareceu no site ananova.com, começou quando o russo acabou indo parar em um teste para filmes pornográficos após confundir cartazes em busca de “atores eróticos” com anúncio de um show de halterofilistas.
Embora Bozdoganov tenha seguido adiante com sua carreira, que inclui os filmes The old neighbor (O vizinho velho) e Handyman at work (O faz-tudo em ação), ele enfrentou problemas geracionais. Como conta o site russo: “Suas coadjuvantes sempre reclamam do fato de que David, por acreditar nos poderes benéficos do alho, insiste em esfregá-lo em seu pênis ereto antes de uma cena, o que deixa um odor desagradável”.
No Japão, as chamadas produções maduras não atraem apenas homens. Nos últimos anos, aumentou o número de atrizes, algumas das quais também na casa dos 70. Isso é um desenvolvimento notável para uma indústria que normalmente classifica mulheres com mais de 25 anos como “maduras”.
Benefício sexual
As tendências sugerem que o “pornô idoso”, alimentado pelas tendências demográficas e pelos produtores sedentos por lucro, não envelhecerá tão cedo. A receita total de impostos sobre a pornografia, no Japão — sob a forma de vídeos, revistas, animes, hentais, mangás e videogames adultos — foi de surpreendentes US$ 19,98 bilhões, no ano fiscal de 2006. Os Estados Unidos, em comparação, arrecadaram US$ 13,33 bilhões no mesmo período.
Lucros à parte, o pornô idoso pode oferecer também algum benefício social. Talvez esses “experientes” artistas possam ajudar a impulsionar os baixos índices de atividade sexual no Japão. Por exemplo, a Organização Mundial de Saúde relatou em março que 25% dos casais japoneses casados não fizeram sexo no último ano, e que mais de um a cada três casais com mais de 50 anos disseram não fazer mais sexo.
Quanto ao porn star veterano Shigeo Tokuda, ele contou à Time que pretende continuar trabalhando até os 80. Quem sabe até depois disso.
Tradução por Henrique Mendes
* Texto originalmente publicado no Asia Times. A versão em português foi publicada no dossiê “Pornô sem Tabu” do número 6 da Revista Samuel, lançado em novembro de 2012.