Alessandro Buzo na Suburbano Convicto: escritor quer dar destaque aos autores da periferia
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São Paulo surpreende. É plural, multicultural e se renova a cada instante. Não é por acaso que na região central da cidade, no segundo andar de um antigo prédio na rua 13 de Maio, no tradicional bairro do Bixiga, a periferia tem voz. Ali mesmo, no reduto italiano da capital paulista, está estabelecida há dois anos a livraria Suburbano Convicto, unindo periferia e centro por meio da literatura.
Com apenas o primeiro grau completo, Alessandro Buzo, 39 anos, contrariou todos os indicativos e há quase 11 anos resolveu se tornar escritor. Quando lançou o primeiro livro, O trem — baseado em fatos reais —, por meio de uma edição independente, não imaginava que lançaria seu décimo livro numa das maiores redes de livrarias do país e seria proprietário da primeira loja especializada em literatura marginal.
Com cerca de mil títulos disponíveis, a Suburbano Convicto é a pioneira no Brasil no comércio de literatura periférica. Com exemplares únicos, de autores já falecidos ou de edições já esgotadas, a loja promove não apenas o comércio, mas encontros culturais como saraus, debates e lançamentos. Semanalmente, dezenas de pessoas passam pelo local e consomem cultura, ora de forma gratuita, ora em forma de investimento.
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Do vermelho ao azul
No entanto, o livro-caixa nem sempre é tão bonito, poético e lírico quanto as declamações que acontecem durante os saraus. Quando se tornou empresário e abandonou o emprego de carteira registrada, Buzo não imaginava como conseguiria sustentar a esposa e o filho de apenas dois anos, mas se cansou de cumprir horários e de não conseguir se dedicar ao que realmente gosta: a literatura.
Se, no passado, Buzo não tinha dinheiro nem mesmo para comprar livros em sebos, hoje ele se orgulha de ser proprietário de uma livraria. “Até hoje sigo com dificuldades financeiras, mas um pouco mais próximo de sair do vermelho. Este ano, finalmente, devo entrar no azul”, conta o proprietário da livraria.
Embora esteja instalada há apenas dois anos no Bixiga, a Suburbano Convicto teve origem no bairro Itaim Paulista, há cinco anos. “A livraria vivia no vermelho. Eu a mantinha como meu escritório, onde recebia a imprensa que cada vez mais me procurava para falar dos meus trabalhos. Eu vivia em uma casa de dois cômodos e me incomodava recebê-los por lá. Esse foi um dos motivos de ter criado a livraria. Outro foi ter um lugar para por em destaque os meus próprios livros e de outros escritores da periferia”, lembra.
Contudo, ele não se enxerga como um empresário, uma vez que associa esta palavra a dinheiro e revela que sobrevive não só dos ganhos da livraria. Por outro lado, reconhece-se como empreendedor.
Fazendo história
O rapper, poeta e geógrafo Renan Inquérito visitou a livraria antes de lançar o próprio livro, #PoucasPalavras, no local. “Eu me senti em casa, representado, à vontade. Admiro muito a coragem e atitude dele, porque abrir um negócio é fácil, agora abrir uma livraria é como abrir um livro, abrir as asas, um movimento para liberdade”, comenta Inquérito.
E é assim, com as prateleiras repletas de livros dos amigos, que Buzo faz história, tanto no que diz respeito ao empreendedorismo, como ao ineditismo. Nos dias de maior movimento, quando acontecem os saraus e atividades, as vendas não se concentram apenas nos livros, mas também em DVDs e outros produtos, como camisetas, bonés, moletons, e ainda na bomboniere disponível no espaço. Porém, diante de tanta novidade, os velhos hábitos de comércio ainda se fazem presentes. Não é raro observar um escambo acontecer em algum canto. O próprio dono da livraria o pratica. “Às vezes troco livros ou os pego em consignação e os autores, quando vêm buscar o dinheiro, preferem levar em mercadoria”, revela.
Pela internet, Buzo mantém um blog com postagens referentes à livraria. Por lá, faz também as vendas dos livros por meio de depósito bancário e envio via correio e é por causa dessa facilidade de acesso pela web que a livraria já recebeu visitantes de quase todos estados os brasileiros. E também lançou autores de todas as regiões e até mesmo internacionais, como Alejandro Reyes, que em 2010 publicou e lançou no espaço o romance A rainha do Cine Roma.
Mas há também quem apenas consuma. Como é o caso do jornalista André Digutti. Admirador da cultura hip-hop e da literatura marginal, ele conta que vai à livraria a cada dois meses para se atualizar. “Costumo comprar livros, DVDs e revistas. Acho o espaço fantástico e me sinto super em casa. Em outros espaços que vendem livros não nos sentimos tão à vontade assim. Eu acho o Buzo um grande empreendedor, um visionário”, destaca.
* Texto originalmente publicado no site Overmundo
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