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No dia em que seu filho nasceu, Monica Rogati e seu marido começaram a planejar obsessivamente a vida do bebê por meio de milhares de bits de dados inseridos no aplicativo Baby Connect de seu smartphone. Eles chamaram os dados de “baby I/O”, uma referência às expressões de computação input/output e um tipo de “piada nerd”, como Rogati define, que deve ser esperada de um casal de profissionais “devoradores” de dados com doutorado na universidade Carnegie Mellon. Com as mamadas do bebê (entrada), as fraldas (saída), as sessões de sono e outros acontecimentos devidamente registrados, ela gerou um significativo volume de dados a cada mês.
O que pode parecer muita informação para uma pessoa tão pequena é a munição típica de aplicativos desenhados para calcular cada piscada, arroto e espirro de um bebê na esperança de traçar seu desenvolvimento ao longo do tempo. Entre os concorrentes do Baby Connect estão Total Baby, Baby Log, iBabyLog, Evoz e o novo aplicativo Bedtime, da Johnson’s Baby, assim como programas da web como Trixie Tracker. Desde o lançamento do Baby Connect, em 2009, Rogati e outros 100 mil usuários já adicionaram 47 milhões de eventos, incluindo 10 milhões de trocas de fralda.
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Pais tecnológicos
Em sua forma mais básica, esta primeira geração de aplicativos de dados de bebês oferece aos pais que gostam de tecnologia um substituto aos registros manuais de troca de fraldas e alimentação. A grande inovação dos aplicativos, no entanto, está no mapeamento e na análise das informações da criança, num processo para tornar a atividade dos pais um empreendimento mais quantificável, baseado na ciência. As próximas versões de aplicativos desse tipo estão prontas para trazer uma mudança ainda mais dramática, permitindo aos pais compararem em detalhes seus filhos com outras crianças. No lugar dos olhares disfarçados no parquinho e das ligações ao pediatra, mães e pais terão um novo e definitivo meio de indagar a antiga questão: “O meu filho é normal?”. O que falta ser avaliado é se esse conjunto de informações irá reduzir a ansiedade dos pais de primeira viagem ou, ao permitir comparações constantes e apreensivas, irá levá-los a um falso alívio.
A primeira geração de aplicativos teve o potencial de diminuir a ansiedade dos pais ao ajudá-los a compreender a primeira infância. Um pai novato e cansado pode encontrar alento num gráfico que mostra o estabelecimento de padrões de sono depois do caos das primeiras semanas do bebê. A diferença entre um gráfico de dispersão do sono (mapear o horário do início do sono e sua duração) de um bebê de um mês e o de uma criança de seis meses, no aplicativo Trixie Tracker, é gritante: a primeira imagem é uma confusão deprimente de pontos com pouca diferenciação entre dia e noite. Aos seis meses, no entanto, os pontos começam a agrupar-se num padrão tranquilizador, com uma correlação aparecendo entre noite e longas horas de sono.
Atualizações
A recompensa dos esforços de Rogati em computar dados veio quando seu filho começou a acordar aleatoriamente durante a noite. Seria a introdução da farinha de aveia? Ou a culpa foi de uma soneca no fim da tarde? Rogati não tinha certeza até que isolou a “variável farinha de aveia”, como ela chama, ao revisar gráficos agregados de alimentação e sono. Porém, ela não estava mais satisfeita com o conjunto de informações sobre seu filho. O que ela quer realmente é poder compará-lo com a multidão — rodar um algoritmo computacional semelhante aos que ela tem à disposição como cientista da informação no LinkedIn, onde trabalha com um banco de dados de 150 milhões de pessoas para responder perguntas como quais nomes estão mais relacionados com uma carreira de sucesso.
Ela não terá de esperar muito. O aplicativo Evoz fez uma parceria com o fabricante de hardware Belkin para produzir um monitor de bebês programado para aparecer nas prateleiras das grandes lojas nos próximos meses. O monitor irá coletar e enviar dados diversos (do sono ao choro do bebê) para o aplicativo por meio da internet sem fio. Assim, os pais estarão liberados da tarefa de registrar os dados manualmente. Mais importante: quando o banco de dados estiver grande o suficiente, o aplicativo também irá permitir aos pais comparar seu filho com os bebês de colegas usuários que tenham a mesma idade e sexo. Outros produtores de aplicativos, como o Baby Connect e a Johnson’s Baby, consideram atualizações semelhantes ainda para este ano.
Rogati imagina que o crowdsourcing (conhecimento gerado pelos usuários das ferramentas) irá providenciar um sistema de aviso prévio para ajudar os pais a determinar o que está ou não fora do padrão, com mensagens do tipo: “Ele está na faixa dos 50%, ele é perfeitamente normal”; ou “isto está com 99,9%. Talvez não seja normal”. Será um meio, ela diz naturalmente, “de resolver os bugs do bebê”.
Tradução Jessica Grant
* Texto originalmente publicado na revista The Atlantic
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