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O conceito do BitTorrent Live é exatamente o contrário daquele das transmissões ao vivo e em tempo real pela internet: quanto mais pessoas estiverem conectadas em um mesmo serviço, mais veloz pode ser a conexão. Impressionante. Esse simples conceito poderia revolucionar várias coisas ao mesmo tempo: “Meu objetivo é matar a televisão”, disse Bram Cohen, meio sério, meio de brincadeira. Mas também permitiria fazer transmissões ao vivo sem precisar de muita infraestrutura.
Vale explicar que mais de 40% do tráfego mundial da internet utiliza o protocolo BitTorrent, inventado por Cohen há pouco mais de uma década, revolucionando a forma de compartilhar arquivos para fazer download. O criador volta agora com um serviço de “transmissão” ao vivo pela rede, realmente fabuloso, em um momento em que as águas da circulação da informação na internet estão bem aquecidas.
A forma de comunicação inventada por Bram Cohen atende pelo nome de BitTorrent e é a versão mais conhecida do protocolo peer-to-peer ou ponto a ponto ou, ainda, p2p. BitTorrent foi apresentado por Cohen no CodeCon em 2001. No ano seguinte, ele incluiu um pouco de pornografia gratuita para testar seu programa. Esse protocolo foi desenvolvido, inicialmente, para uma empresa de segurança que queria distribuir seus arquivos de forma codificada, para que as cópias de segurança não pudessem ser destruídas e para que também fosse impossível conhecer o conteúdo dos arquivos. Hoje o BitTorrent tem 150 milhões de usuários ativos e mais estáveis do que os usuários de Facebook ou do YouTube.
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Tempo real
Desde sua criação, o mercado de Hollywood e a indústria fonográfica têm pressionado os provedores de internet para que eles diminuam a velocidade entre as conexões realizadas por meio desse protocolo. Na Argentina, todos os provedores costumam executar essa prática, diminuindo a largura da banda dedicada, afetando o conceito de neutralidade da internet, em que cada pacote de dados deveria ter o mesmo tratamento.
O protocolo desenvolvido por Bram Cohen sob o nome de BT Live pode revolucionar produtos da indústria cultural através da internet com a utilização de recursos distribuídos, não para baixar arquivos, mas para transmitir conteúdo, conhecido por streaming. No dia 20 de janeiro deste ano, foi transmitido, pela primeira vez, um show da Dean Guitars (fabricantes de instrumentos musicais), durante o evento da NAMM (National Association of Music Merchants), cuja origem da transmissão não era apenas um, mas dezenas de computadores de todo o planeta.
Para que esse protocolo funcione corretamente, Cohen teve de reescrevê-lo praticamente do zero, uma vez que a versão existente do BitTorrent tinha problemas latentes, ou seja, o tempo de envio e recepção dos dados.
Segundo Bram Cohen, no seu blog oficial, o objetivo do BT Live é “eliminar um problema fundamental dos serviços de transmissão em tempo real (streaming) na internet, acabando com a necessidade de arcar com a infraestrutura dos custos dos serviços de servidores, reduzindo dessa forma consideravelmente o tempo de transmissão”. O protocolo, segundo Cohen, comportou-se de forma bastante estável e era necessário testá-lo de forma massiva. “O streaming ao vivo do BitTorrent trabalha com um modelo distribuído entre todos que estão assistindo à transmissão. Ou seja, a arquitetura peer-to-peer aproveita os recursos de cada internauta, de cada computador, de cada conexão. Quanto mais pessoas se juntarem durante uma transmissão, a velocidade dessa transmissão melhora ainda mais”, disse Cohen.
Lógica inversa
O protocolo do BT Live vem sendo testado há várias semanas no site oficial live.bittorrent.com. Para tanto, é preciso instalar o programa do BitTorrent, além de um aplicativo que pode ser baixado do site. Talvez o ponto frágil do BT Live seja o seguinte: se houver pouca gente assistindo a uma transmissão, a velocidade fica mais baixa. Porém o espírito do protocolo permite que seja mais fácil fazer uma transmissão “direta” para menos pessoas.
Do ponto de vista tecnológico, a proposta de Bram Cohen é totalmente inovadora: até agora supunha-se que para “resistir” a uma demanda maior de transmissão era necessário ter uma infraestrutura maior. O BT Live vai mudar essa lógica: quanto maior for a demanda de um serviço, maior será a velocidade da transmissão.
Essa lógica foi pensada para transmissões ao vivo, mas não levará muito tempo até que alguém comece a usá-la para visualizar qualquer outro tipo de conteúdo. O grande desafio de Cohen é fazer com que a indústria entenda que BT Live não é um inimigo, mas um aliado para investimentos. Do ponto de vista filosófico, trata-se de resgatar os pilares de uma internet livre, distribuída e neutra.
Tradução por Mari-Jô Zilveti
* Texto originalmente publicado no diário argentino Página/12
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