Ciclovia em Minneapolis: a cidade realizou investimentos e está entre as melhores dos EUA para bicicletas
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“O ciclismo é definitivamente parte da nossa estratégia para atrair e manter empresas, a fim de competir em um mundo móvel”, diz o prefeito de Minneapolis, R.T. Rybak, enquanto deslizamos de uma margem à outra do rio Mississippi sobre uma das duas pontes para pedestres e ciclistas que ligam o centro à Universidade de Minnesota. “Queremos que jovens talentos venham para cá e fiquem. Uma boa estrutura para o ciclismo é uma das formas mais baratas de transmitir essa mensagem.”
Eis alguns investimentos feitos pela prefeitura de Minneapolis no ciclismo:
– Rede de ciclovias fora das ruas, cruzando toda a cidade.
– Acréscimo de 290 quilômetros de ciclofaixas nas ruas, com planos para duplicação.
– Lançamento de um dos primeiros grandes programas de compartilhamento de bicicletas nos EUA.
– Criação de faixas protegidas para separar os ciclistas do tráfego motorizado.
Agora Minneapolis aparece próxima do topo em todas as listas que classificam as melhores cidades dos EUA para ciclistas. Isso “dá uma aumentada” no apelo da cidade para empresas de muitos setores, diz Rybak.
“Nós nos mudamos do subúrbio para o centro de Minneapolis para permitir que nossos empregados aproveitem as muitas ciclovias da área”, explicou Christine Fruechte, executiva-chefe da agência de publicidade Colle + McVoy, num artigo de jornal.
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Sem carro
Os jovens de hoje em dia estão dirigindo significativamente menos do que nas gerações anteriores, segundo vários estudos recentes. Até a revista Motor Trend observa que os profissionais jovens que chegam atualmente às cidades estão menos inclinados a comprar carros e “mais propensos a gastar dinheiro com smartphones, tablets, laptops e bicicletas de mais de US$ 2.000”.
A quilometragem anual percorrida por pessoas na faixa de 16 a 34 anos caiu 23% de 2001 para 2009, segundo estudo da entidade de pesquisas Frontier Group — e isso nem leva em conta os últimos três anos de recessão e a gasolina a mais de US$ 1 por litro. A Administração Federal de Rodovias descobriu que a quilometragem percorrida por motoristas com até 30 anos caiu de 21% para 14% do total entre 1995 e 2009.
Esses jovens da “classe criativa” representam o conjunto de talentos cobiçado por muitas companhias. Por isso, líderes cívicos, empresariais e políticos de todo o país estão prestando atenção aos anseios da próxima geração por lugares agradáveis e animados para trabalhar e se divertir. Isso significa oportunidades culturais diversificadas, cafés e restaurantes em abundância, um ambiente social tolerante, uma variedade de opções habitacionais e amplas opções de transportes como o ciclismo — não só para ir trabalhar, mas também para a recreação após o expediente e, em alguns casos, na hora do almoço.
Richard Florida, o especialista em previsões econômicas que cunhou o termo “classe criativa”, recentemente descreveu no Wall Street Journal esses trabalhadores disputados como “menos interessados em ter carros e casas grandes. Eles preferem viver em localizações centrais, onde possam alugar um apartamento e usar o transporte público, caminhar ou ir de bicicleta para o trabalho”.
Florida vê a bicicleta como algo crucial em cidades prósperas, razão pela qual ele se envolveu no ano passado no acalorado debate de Nova York sobre a proliferação das ciclofaixas. “Nova York se tornou um refúgio para profissionais da classe criativa”, escreveu ele no Daily News. Ele acrescentou que andar de bicicleta continua sendo algo importante para os profissionais de áreas criativas mesmo quando eles ficam mais velhos. “Quando eles põem seus filhos em assentos infantis ou em carrinhos de bebê para corrida, ciclovias livres de tráfego se tornam especialmente importantes para eles”.
Trinta e três executivos de empresas nova-iorquinas de alta tecnologia — incluindo Foursquare, Meetup e Tumblr — também entraram na discussão sobre as bicicletas, pedindo ao prefeito Michael Bloomberg que “apoie um sistema de compartilhamento de bicicletas, como forma de atrair e reter investimentos e talentos, para que a cidade de Nova York permaneça competitiva na economia voltada para as mídias digitais e a internet, que estão em rápida expansão”. Bloomberg concordou, e o programa de compartilhamento de bicicletas começa em março deste ano, com 7.000 bicicletas de aluguel.
Via verde
O prefeito de Chicago, Rahm Emanuel, foi eleito no ano passado com uma agressiva plataforma de trazer novas empresas tecnológicas e criativas para a cidade. Ele marcou um ponto importante meses atrás, com o anúncio da Google-Motorola Mobility, de que estava transferindo mais de 2.000 postos de trabalho da sua sede suburbana para o coração da cidade. “Uma das coisas que os empregados avaliam hoje é a qualidade de vida e a qualidade do transporte, por causa da facilidade que isso proporciona”, explicou Emanuel.
John Tolva, diretor de tecnologia da Prefeitura de Chicago, diz não ser coincidência o fato de a nova sede da Google-Motorola Mobility, no edifício Merchandise Mart, ser vizinha à rua Kinzie, primeira “via verde” da cidade — onde as ciclofaixas são fisicamente separadas do tráfego intenso, para dar maior sensação de segurança e conforto aos ciclistas. A ideia de criar espaços protegidos para pessoas sobre duas rodas, emprestada de países do norte da Europa, onde as bicicletas respondem por 10% a 30% dos deslocamentos, está agora se espalhando pelos EUA.
“As cidades que querem brilhar estão construindo esses tipos de instalações ciclísticas melhoradas como parte de um conjunto de ativos para atrair empresas”, diz Martha Roskowski, diretora do Projeto Faixas Verdes, que promove a implantação de ciclofaixas protegidas no país inteiro. “Elas descobrem que a infraestrutura ciclística é barata em comparação a novos estádios esportivos e a linhas de veículos leves sobre trilhos, e que pode ser feita muito mais rapidamente.”
Christopher Leinberger, professor de administração da Universidade George Washington e destacada autoridade do mercado imobiliário, previu o atual boom urbano numa série de artigos para a revista The Atlantic. “Pedalar não é mais apenas um nicho para os caras machos. Agora é para muita gente”, diz ele. “Ótimos espaços urbanos têm tudo a ver com opções, inclusive nos transportes.”
Ellen Jones, diretora do Bairro da Melhoria Empresarial do Centro de Washington, concorda: “É incrível como o ciclismo decolou aqui, especialmente o novo sistema de compartilhamento de bicicletas, que muita gente está usando para ir trabalhar”, disse ela. Conversamos depois de ela voltar de uma reunião com gestores de uma empresa de alta tecnologia interessados em alugar um velho galpão no centro da cidade. “Muitos empregados deles vão de bicicleta para o trabalho, e eles estavam preocupados em saber se os funcionários iriam conseguir levar facilmente suas bicicletas para o andar de cima. Quando a bicicleta é parte da decisão final sobre onde uma companhia se reinstala, então sabemos seu impacto.”
Outro benefício considerado pelas empresas para se instalarem em locais propícios ao uso da bicicleta é a redução nos custos do seguro. A QBP, distribuidora de peças para bicicletas na Grande Minneapolis, com 600 empregados, oferece uma série de incentivos para os funcionários que vão trabalhar pedalando, e descobriu com isso um bônus inesperado — uma diminuição de 4,4% nos custos com atendimento médico, totalizando uma economia anual de US$ 170 mil.
Ciclovias e empregos
As bicicletas estão melhorando o ambiente de negócios mesmo em cidades que não são grandes regiões metropolitanas, nem são classificadas como capitais do ciclismo.
Austin, no Texas, está ampliando de forma ambiciosa sua infraestrutura ciclística; sua primeira “faixa verde” — entre dez planejadas na cidade — foi aberta no primeiro semestre de 2012. A Cirrus Logic, fábrica de chips de computador que depende de engenheiros com formação especial, transferiu-se em meados do ano passado de uma área afastada para o centro de Austin, “para se tornar mais atraente como empregador”, diz o diretor de relações públicas Bill Schnell. “Não podemos simplesmente pegar qualquer um para os nossos empregos. As pessoas que queremos são principalmente as mais jovens, e pedalar é parte da equação para elas.”
Há cinco anos, o executivo-chefe Tyson Tuttle transferiu a empresa Silicon Labs, que projeta circuitos integrados de computadores, para o centro de Austin, a fim de ficar perto da rede local de ciclovias. Essa foi uma das primeiras entre as muitas empresas de tecnologia agora instaladas na área. Tuttle, que às vezes também vai pedalando para o trabalho, diz que foi uma decisão inteligente. “Pedalar em ciclovias é algo de que muitos empregados gostam, e quando as pessoas pensam em entrar para a empresa esse é um grande chamariz.”
Você talvez pensasse que Memphis, no Tennessee, seria o último lugar dos EUA a acreditar que o caminho para a prosperidade pode ser percorrido de bicicleta. Em 2008, sem uma só ciclofaixa dentro dos seus limites urbanos, ela foi considerada uma das três “piores cidades para andar de bicicleta nos EUA” pela revista Bicycling (as outras eram Dallas e Miami).
Isso levou a prefeitura a demarcar algumas ciclofaixas, mas a cidade voltou a aparecer entre as três piores na lista de 2010 (dessa vez na companhia de Birmingham, no Alabama, e Jacksonville, na Flórida). Neste ano, a Bicycling saudou Memphis como sendo a cidade que “mais melhorou” para a prática do ciclismo. Ela também foi citada como uma das seis cidades (junto com Portland, San Francisco, Washington, Chicago e Austin) que recebem apoio do Projeto Faixa Verde, da Fundação Bikes Belong, para criar uma rede de ciclofaixas protegidas. A fundação espera que elas sirvam como modelo a ser seguido por outras cidades.
Tradução por Rodrigo Leite
* Texto publicado originalmente na revista eletrônica norte-americana Yes!
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