Paulo Egydio (centro) autografando seu livro para os vereadores Mário Covas Neto e Ricardo Young
Em depoimento na Câmara Municipal de São Paulo nesta terça-feira (26/11), o ex-governador Paulo Egydio Martins (1975-1979) afirmou que não sabia quem era o jornalista Vladimir Herzog quando foi informado de sua morte, em 25 de outubro de 1975.
“Fui informado da morte pelo meu secretário de segurança, [o coronel] Erasmo Dias, por telefone. Eu fiquei estatelado. Foi a primeira vez que ouvi falar no nome Herzog. Não sabia quem era Herzog”, relembrou o ex-governador, hoje com 85 anos de idade. “Vocês entenderão: o jornal informativo da noite da TV Cultura se tivesse 0,001% de audiência, seria um sucesso. Eu pedi que, através do Erasmo, fosse feita uma pesquisa sobre o que constava no SNI, no Exército, na Marinha e na Aeronáutica sobre o senhor Vladimir Herzog. A resposta oficial: não constava nada”, completou Paulo Egydio, em sessão da Comissão Municipal da Verdade.
“Veio do II Exército a explicação: cabe ao Exército tratar da segurança nacional e ele representa uma ameaça à segurança nacional. Pedi que alguém me explicasse como ele poderia por em perigo a segurança nacional. Nunca tive resposta. Não entra na minha cabeça que o Herzog fosse um perigo à segurança nacional. Quem acreditar que o Herzog, comandando um jornal sem audiência, era uma ameaça à segurança nacional é ingênuo ou está de má fé”, disse também.
De acordo com Paulo Egydio, a morte de Herzog foi uma tentativa de criar um atrito para desestabilizar o governo de Ernesto Geisel (1974-1979), de quem ele era amigo pessoal. “O objetivo de alguns militares, como o general Sylvio Frota, era tirar o Geisel da Presidência da República.”
Golpe de 1964
O ex-governador de São Paulo também foi questionado sobre a conspiração entre civis e militares para derrubar o presidente João Goulart em 1964. Segundo ele, “todos os grupos comerciais” contribuíram com o golpe.
“Se você me perguntasse quem não contribuiu, eu não saberia responder. Quem coordenou essa contribuição foram vários grupos, mas dois se destacaram: Theodoro Quartim Barbosa, presidente do Banco do Comércio e Indústria de São Paulo, grande líder empresarial da época, e Gastão Eduardo Bueno Vidigal, presidente do Banco Mercantil de São Paulo. A cada discurso que o Jango fazia em Brasília, aumentavam as contribuições”.
Questionado sobre o financiamento da Oban (Operação Bandeirante), que deu origem ao DOI-CODI, Paulo Egydio disse não saber dos detalhes. “Mas não vejo nenhum motivo para que as doações fossem interrompidas.”
Apesar de assumir que participou da organização para derrubar Jango e de ter sido ministro da Indústria e Comércio do governo Castello Branco (1964-1967), Paulo Egydio lamentou o rumo tomado pelo regime militar. “Dois meses depois do golpe nós já víamos que nossa revolução tinha acabado. Mas seria impossível derrubar o governo militar ficando de fora.”
Invasão à PUC
Paulo Egydio Martins também assumiu toda a responsabilidade pela invasão da PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) em 22 de setembro de 1977.
“A invasão da PUC foi uma ordem minha, não foi iniciativa do Erasmo Dias. Deixei a reunião da UNE (União Nacional dos Estudantes) acontecer, mesmo com ordens contrárias do Geisel. Só pedi para prender os estudantes quando eles começaram a agredir a polícia com pedras.”
Maluf
Questionado sobre os motivos que o levaram a deixar a política, Martins disse que um dos principais foi a disputa com o também ex-governador Paulo Maluf. “Ou eu seguia os métodos dele ou parava de fazer política.”
Em seu livro de memórias, Paulo Egydio conta (Imprensa Oficial, 2007; disponível para download aqui), o ex-governador afirma que defendia na Arena (Ação Renovadora Nacional) a candidatura do prefeito de São Paulo, Olavo Setúbal, ao governo do Estado. João Baptista Figueiredo, já escolhido por Geisel como sucessor à Presidência, insistiu no nome de Laudo Natel, que já fora governador.
Figueiredo impôs seu candidato, que, mesmo contando com o apoio de Geisel e Paulo Egydio, foi derrotado na convenção do partido por Paulo Maluf por 28 votos (589 a 617). Maluf foi eleito pela Assembleia Legislativa, pois na época não havia eleições diretas para o cargo de governador.
No livro, Egydio conta também que deixou de se relacionar com Geisel nos anos 1980, quando o já ex-presidente encontrou-se com Maluf sem avisá-lo. “Não fui no velório dele”, disse o ex-governador sobre a morte de Geisel, em 1996.
Na parte final da sessão na Câmara, Martins preferiu não responder algumas perguntas relacionadas a Maluf, de quem disse não ser amigo “por questões pessoais”.
* Texto publicado originalmente no portal jurídico Última Instância
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