Divulgacão
Ahmet Muhsin Tuzer: uso das vestes de imã em shows de rock gera controvérsias entre muçulmanos
Em um vídeo do YouTube, filmado em frente a uma enorme mesquita, um homem, usando camiseta e jeans branco, canta apaixonadamente em turco. Não se trata de mais um vídeo de rock. O líder da banda, Ahmet Muhsin Tuzer, é um imã local e seu hobby tem gerado muita controvérsia na Turquia.
Vestido com uma calça apertada e top em estilo grunge habituais, Tuzer, de 42 anos, parece mais confortável no palco que dentro da mesquita mediterrânea, onde, cinco vezes ao dia, ele recita as orações.
“Os moradores da minha vila pertencem a uma geração mais antiga. Eles não entendem realmente o rock ’n’ roll, mas mesmo assim me apoiam”, brinca. Entrevistas com os moradores de Pinarbasi, cidade natal de Tuzer, confirmam a descrição do imã. “Eu acho ótimo que nossa vila tenha um imã, e que tenha um hobby como ele tem”, disse uma senhora.
Investigação
Tuzer, que cita como seus ídolos Freddie Mercury, Metallica, Iron Maiden e Dire Straits, decorou o Alcorão aos 4 anos de idade. “Eu fiz o colegial, e, depois da graduação, fui designado como imã”, explica. A paixão adolescente de Tuzer pelo rock não desapareceu quando o Estado o designou para ser um clérigo. Ao invés disso, o imã nada convencional decidiu unir suas duas paixões, Deus e a música, no seu primeiro single, com Dogan Sakin, “Mevlaya Gel” (venha até Deus), visualizado por mais de 42 mil pessoas desde que foi postado no YouTube, em julho de 2013. Sua banda, FiRock, lançou outras músicas em vídeos, como “Brothers in Arms”, “The Show Must Go On” e “Enter, Sandman”. O próximo álbum da banda, “Time of Change”, foi lançado no início de 2014.
A banda provocou uma controvérsia significativa durante um show em que Tuzer usou suas vestes de imã no palco. Da mesma forma que sua performance garantiu o apelido de “o imã do rock ‘n’ roll”, também gerou uma réplica oficial rápida.
“Fui investigado pelo Diyanet (Departamento de Assuntos Religiosos) após o show”, conta Tuzer. Ele observa que nenhuma medida contrária foi tomada, e que o Diyanet, que gerencia todos os imãs pertencentes ao serviço público turco, ainda não divulgou o resultado da investigação.
Percepção
Entretanto, Tuzer é acostumado a controvérsias. Há uma década, quando era muezim de uma mesquita em Istambul, ele se casou com Mara, uma romena que, depois, converteu-se ao Islã, e hoje é uma de suas grandes fãs.
Mas o “imã do rock” não vê perigo em sua música, argumentando que ela atrai jovens, intelectuais e pessoas de diversas ou nenhuma fé. “Minha música é inclusiva. Ela fala sobre Deus, sobre a procura de nossas identidades, por meio do misticismo; todos e tudo voltam a Deus”, diz ele. Tuzer reclama que não entende a controvérsia gerada pela sua segunda carreira, alegando que a música pode atingir mais pessoas e combater estereótipos negativos do Islã.
“As pessoas veem imagens aterrorizantes de guerra na região e esquecem que a religião islâmica é feita de respeito, tolerância, amor. A música pode mudar esta percepção.”
Tradução Isis Shinagawa
Texto originalmente publicado em Now, veículo on-line dedicado a notícias, análises, reportagens com foco no Líbano e em outros países do Oriente Médio.
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