Victor Ponta (à esquerda) e Li Keqiang: encontro em Bucareste consolidou parcerias entre Romênia e China
Este ano marca o 65o aniversário do estabelecimento de laços diplomáticos entre Romênia e China. A visita de Li Keqiang, em novembro de 2013, deu sequência à visita do primeiro-ministro romeno Victor Ponta à China, em julho de 2013, que teve como pauta a proposta de incrementar a parceria estratégica entre os dois países.
Os oficiais chineses acataram muito seriamente a proposta de Ponta, mas de acordo com seus próprios termos. Em uma declaração conjunta tornada pública em Bucareste, o primeiro-ministro romeno e o premiê Chinês salientaram que eles veem a parceria entre os dois países como um exemplo de relações internacionais. Li sugeriu que a cooperação sino-romena poderia se tornar um modelo de parceria entre a China e outros países do centro e do leste da Europa, adicionando um novo impulso às relações entre a China e o continente europeu.
A Romênia tem sofrido economicamente, trocando energia e matérias primas valiosas por alguns poucos projetos de infraestrutura e bens comerciais. De um ponto de vista político, no entanto, ao mostrar que tem parceiros econômicos alternativos viáveis, a Romênia está se posicionando diante do restante dos países da União Europeia, que usam o mercado romeno para vender seus produtos, mas frequentemente tratam o país como um membro de segunda classe.
Empregos
A maior parte dos investimentos chineses prometidos terá como foco o setor energético romeno, somando mais de 7 bilhões de euros. De acordo com o primeiro-ministro romeno, os chineses investirão cerca de 6 bilhões de euros em energia nuclear; uma parte do montante servirá para apoiar as usinas nucleares já existentes em Cernavoda e, outra parte, para construir uma nova usina em Tarnita. A Romênia deve proceder com cuidado. Em 2012, após a realização de uma avaliação de segurança das usinas nucleares chinesas, o presidente da Corporação de Tecnologia Energética Nuclear Estatal da China reconheceu, de passagem, a existência de problemas em 14 áreas, alguns dos quais demorariam três anos para serem resolvidos. Mas calou-se quanto à natureza, os locais e o grau de seriedade de tais problemas.
Além disso, a Romênia escolheu focar em energia nuclear enquanto muitos outros países europeus, como a Alemanha e a França, comprometem-se em reduzir sua dependência em relação a este tipo de energia, em resposta ao desastre de Fukushima.
Em troca da energia tão necessária, os chineses construirão um projeto de trens de alta velocidade para a Romênia, a começar por um projeto piloto de cerca de 500 milhões de euros, investindo também no setor de tecnologia da informação, o que criará 1.200 empregos no país.
Parcerias
Outra boa notícia surge para os fazendeiros romenos. Gravemente afetados pela queda na demanda dos mercados europeus, os oficiais chineses também assinaram dois acordos com suas contrapartes romenas envolvendo a importação de 500 mil cabeças de gado e 3 milhões de porcos ao longo dos próximos anos, tendo também demonstrado interesse em importar ovelhas e outros produtos alimentícios.
A Romênia é um importante mercado e conta com a Alemanha, a Itália e a França dentre alguns de seus principais parceiros comerciais. Ainda assim, Alemanha e França são, atualmente, os mais veementes opositores da proposta de permissão para que a Romênia, junto à vizinha Bulgária, venham a integrar a área Schengen – hoje limitada a 26 países europeus, que permitem que seus cidadãos transitem livremente entre as fronteiras –, embora os dois países atendam a todos os requisitos técnicos.
Durante a visita dos oficiais chineses, o primeiro-ministro romeno enfatizou que, embora as regras de competição da União Europeia sejam respeitadas, as empresas chinesas serão escolhidas sempre que sua oferta for vantajosa de um ponto de vista técnico e financeiro. Levando-se em conta os níveis notórios de corrupção tanto na Romênia, quanto na China, a notícia deve ser recebida com algum ceticismo.
A Romênia não está sozinha na criação de novas parcerias com a China. A Polônia também assinou uma parceria estratégica, focada no aumento das exportações polonesas para a China e no incentivo à participação de empresas chinesas na construção de sua infraestrutura.
Brandon Atkinson
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Sinalização
Da mesma forma, em setembro, a Turquia, que tem repetidamente lidado com adiamentos em sua requisição de entrada na União Europeia, escolheu a estatal Corporação de Importação-Exportação de Maquinaria de Precisão da China, em detrimento de concorrentes americanas e europeias, para a criação de seu sistema de defesa antimísseis a fim de aumentar a produção doméstica de armamentos. O comércio bilateral em rápida expansão entre China e Turquia, além da aceitação desta em participar como parceira de diálogos na Organização para a Cooperação de Xangai, marcam um aprofundamento das relações.
As relações mais próximas entre a Romênia e a China estão apenas começando. O próximo ano e os subsequentes revelarão em que medida a China pode ser uma parceira viável para o país, e a parceria pode acabar por se revelar uma tentativa, por parte da China, de acessar as reservas de energia e obter oportunidades de negócios nas regiões central e leste da Europa. Até o momento, a China parece determinada a implementar as mesmas estratégias na África, onde fornece infraestrutura e expande o comércio em campos necessários ou vantajosos, enquanto obtém os recursos energéticos necessários para manter a prosperidade de sua economia.
Mas, com seu movimento em direção à China, a Romênia sinalizou um aporte diferenciado em relação aos demais Estados europeus. Ela não tem medo de explorar alternativas econômicas. A parceria com a China, que cria concorrentes para as empresas europeias, envia uma mensagem poderosa sobre as profundas preocupações quanto ao processo de marginalização de certos membros no interior da UE, vivenciadas tanto na Romênia, quanto em outras partes da Europa central e oriental.
Tradução Henrique Mendes
Texto originalmente publicado em YaleGlobal, revista eletrônica do Centro para Estudo da Globalização da universidade Yale.
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