Uruguai – 13 a 30 de julho de 1930
A primeira Copa
Realizada no Uruguai, em honra aos 100 anos de independência do país. Vencem os anfitriões por 4 a 2, na final contra a Argentina. As seleções da Bélgica, Romênia e França, o então presidente da Fifa, Jules Rimet, e três árbitros chegam ao Uruguai a bordo do navio italiano Conte Verde. Duas semanas de viagem que os jogadores aproveitam para treinar, lançando inúmeras bolas ao oceano e incomodando o sossego das outras pessoas a bordo. É também a edição da final fantasma pelos terceiro e quarto lugares. Há quem sustente que a partida tenha sido de fato disputada, com vitória da Iugoslávia sobre os EUA por 3 a 1, e há quem diga que nada disso tenha acontecido. Na final, que de fato aconteceu, as duas equipes, depois de uma longa disputa sobre que bola usar, decidem jogar metade da partida com a bola argentina, e a outra metade com a bola uruguaia. O árbitro Langenus aceita apitar a final somente duas horas antes do primeiro apito, e só depois de conseguir um seguro de vida e a promessa de que poderia partir de volta para a Europa assim que a partida terminasse. Outros tempos…
No vídeo, momentos da final entre Uruguai e Argentina, jogada em meio a grandes tensões devido à rivalidade entre as duas seleções.
Itália – 27 de maio a 10 de junho de 1934
O torneio do regime
Em uma Itália em pleno regime fascista são novamente os anfitriões a triunfar. Os uruguaios, então campeões, não participam em protesto à polêmica da edição organizada por eles, quando muitas seleções não se apresentaram pelos elevados custos da viagem. A Argentina deixa vários campeões em casa, com medo de que seus jogadores fossem conquistados pelos clubes europeus, como já tinha acontecido anteriormente. O suíço Leopold Kielholz, jogando de óculos, consegue marcar três gols. Nas quartas de final a Itália é barrada no 1 a 1 por uma Espanha liderada pelo fenomenal goleiro Zamora – que desapareceu inexplicavelmente no dia seguinte, quando a partida foi realizada novamente. Ordens expressas do Duce, segundo a lenda.
França – 4 a 19 de junho de 1938
A Copa pré-guerra
A Itália vence mais uma vez, agora na democrática França, em uma vitória fortemente desejada por Mussolini. Em sua estreia no torneio de 1938, a seleção italiana é vaiada por milhares de militantes antifascistas refugiados na França. A grande ausência é o Wunderteam da Áustria e seu campeão Sindelas. A anexação do país pela Alemanha em 1938 apaga a Áustria do mapa europeu, e Sindelar se recusa a vestir a camisa alemã. Na semifinal, o técnico do Brasil deixa o artilheiro Leônidas no banco, com a intenção de poupá-lo para a final que o Brasil nunca chegou a jogar. A final é realizada em Paris, com a Itália batendo a Hungria por 4 a 2.
No vídeo, Colaussi e Piola deixam a Hungria de joelhos. A Itália é campeã do mundo pela segunda vez consecutiva.
Brasil – 24 de junho a 16 de julho de 1950
Uma tragédia esportiva
Depois de doze anos e um conflito sangrento, a Copa volta a ser realizada. A Itália, então campeã, vai para o Brasil de navio – ainda era grande o trauma pela tragédia de Superga, acidente aéreo que vitimou toda a equipe do Torino em 1949. Alemanha e Japão não são convidadas por serem consideradas responsáveis pelo início da Segunda Guerra Mundial. Antes da última partida, são vendidas 500 mil camisas com a frase “Brasil Campeão 1950”. Os jornais trazem manchetes entusiasmadas, a vitória era garantida. No Maracanã, quase 200 mil brasileiros e algumas centenas de uruguaios. Mas acontece o impossível. O Uruguai se impõe sobre os favoritíssimos donos da casa por 2 a 1. Algumas dezenas de infartos na arquibancada, 34 suicídios e 56 mortos, uma carnificina. Os Estados Unidos, em um encontro épico, batem os ingleses, maestros da bola, por 1 a 0. Uma vitória histórica que traz a assinatura de Joe Gaetjens, haitiano que emigrou para Nova York, onde trabalhava como lavador de pratos em um restaurante, e que acabou na seleção fazendo o gol da vitória.
Evento histórico, no vídeo: a Inglaterra domina, mas é derrotada. Em outro hemisfério, do outro lado do oceano, pensam se tratar de um erro: não é possível, era para termos vencido por 10 a 0…
Suíça – 16 de junho a 04 de julho de 1954
A surpresa alemã
Campeonato realizado no quintal da FIFA, na Suíça; um dos poucos países capazes de organizar o evento, já que tinha sido poupado durante a guerra. É a primeira Copa a ser transmitida pela televisão. A final foi entre a Alemanha Ocidental e a fortíssima Hungria, que vinha de quatro anos sem nenhuma derrota e era dona do recorde de gols marcados em um único torneio: 27. Uma partida que só poderia ter um desfecho. E eis que vencem os alemães, um time de amadores – e haja polêmicas e acusações de doping. Muitos jogadores da Alemanha de fato passam o dia seguinte à partida no hospital, com problemas no fígado. A Hungria é protagonista também da batalha de Berna, contra o Brasil: três expulsões e brigas entre os jogadores, com os brasileiros enfurecidos invadindo o vestiário húngaro depois da partida.
No vídeo, o milagre de Berna, com a vitória alemã.
Suécia – 8 de junho a 29 de agosto de 1958
A primeira Copa do Brasil
A Itália é a grande ausência na Suécia, tendo sido eliminada na etapa de classificação pela Irlanda do Norte. Gales participa em virtude de uma vitória contra Israel, obrigada pela FIFA a enfrentar uma partida de desempate com o time europeu, já que nenhuma das seleções vizinhas aceitou jogar uma partida contra os “invasores”. Somente 2.823 pessoas assistem à partida entre Hungria e Gales, devido a um boicote em solidariedade a Nagy, ex-primeiro-ministro húngaro, executado no dia anterior. A Copa de 1958 será lembrada por um jovem brasileiro que se destaca nas quartas de final, contribuindo decisivamente à vitória de sua seleção na final contra a Suécia. Trata-se de Pelé. O jogador russo Streltsov não participou dessa Copa: astro do futebol não muito benquisto pelo Partido Comunista, é obrigado a assinar uma confissão por uma acusação de violência, o que faz depois de ter sua participação na Copa confirmada pelas autoridades. O jogador, porém, vai preso e é enviado para um “gulag”, onde passa os 12 anos seguintes.
Vídeo para emocionar: o primeiro gol de Pelé na Copa.
Chile – 30 de maio a 17 de junho de 1962
A batalha do Chile
É a Copa chilena, para a decepção da Argentina que aspirava a ser a anfitriã naquele ano. A Itália se encontra no grupo da morte e é protagonista da batalha de Santiago, partida violentíssima, que termina entre socos e expulsões, contra os donos da casa, envenenados por artigos publicados em jornais italianos sobre a situação socioeconômica chilena. Os jogadores italianos entram em campo carregando flores como um símbolo de paz, gesto evidentemente não captado pelos jogadores e torcedores adversários. É a Copa da violência. Garrincha, grande protagonista do Brasil que se sagra campeão na final contra a Tchecoslováquia, é expulso na semifinal por reagir a uma falta violenta. Na saída, é atingido por uma pedra, o que lhe rende três pontos na cabeça. Presente na expedição italiana está o jovem Giovani Trapattoni, que porém não chega a jogar.
No vídeo, momentos da batalha de Santiago: Chile vence a Itália por 2 a 0.
Inglaterra – 11 de julho a 30 de julho de 1966
O futebol volta pra casa
A taça Jules Rimet é roubada pouco antes da Copa, realizada na Inglaterra, e reencontrada graças ao cão Pickels. O troféu vai para os donos da casa também graças ao clamoroso gol fantasma de Hurst, na prorrogação contra a Alemanha. Pak Doo Ik, o dentista da Coreia do Norte, manda a Itália pra casa, em uma das piores derrotas da história “azzurra”. A Coreia do Norte é eliminada em seguida por Portugal nas quartas de final por 5 a 3. Uma derrota que custará caro aos atletas asiáticos, obrigados a passar por um programa de reeducação política ao voltarem para casa. Quartas de final entre Inglaterra e Argentina: Rattin, expulso, se recusa a deixar o campo por 11 minutos. Devido a esse episódio, o árbitro inglês Aston, o mesmo da batalha de Santiago, propõe a introdução dos cartões. É a Copa da afirmação de Eusébio, a pantera negra, que escapa do destino de engraxate para se tornar um dos maiores jogadores de todos os tempos.
No vídeo, trechos do jogo entre Alemanha e Inglaterra: gol anulado ou válido?
México – 31 de maio a 21 de junho de 1970
A taça Rimet vai ao Brasil
Edição da partida do século, Itália e Alemanha, 4 a 3. Beckenbauer termina a partida estoicamente jogando com um braço apoiado por uma atadura devido a uma luxação no ombro. O terceiro goleiro italiano Lido Vieri aproveita a viagem ao México para ficar noivo da filha do vice-presidente do país. É a primeira Copa em cores: pelas inovações televisivas, e também porque pela primeira vez são usados os cartões vermelho e amarelo. Joga-se em altitudes muito elevadas: a URSS vem acompanhada por uma equipe médica, a Suécia treina em cabines pressurizadas. A taça se perde durante a festa brasileira depois da final, e só é reencontrada na saída do estádio. Apesar do bom resultado, a seleção italiana é recebida no aeroporto Fiumicino, em Roma, com tomates e insultos.
Alemanha – 13 de junho a 7 de julho de 1974
O triunfo alemão sobre a Holanda de Cruyff
A URSS não participa do torneio por se recusar a jogar com o Chile, em protesto contra o sangrento golpe de Estado de Pinochet. O chileno Carlos Caszely se recusa a apertar a mão do ditador antes de partir para a Copa, e se torna um símbolo. É o mundial da Holanda, do desvairado carrossel holandês, de Cruyff. Os Oranje são derrotados pela anfitriã Alemanha Ocidental, em uma final que começa atrasada porque faltam as bandeirinhas de escanteio. Tem também Brasil e Zaire: os tricampeões do mundo contra um pedaço esquecido da África. O Brasil está em vantagem por 3 a 0, e tem uma falta marcada em seu favor. O goleiro africano Mwepu parece tomado por um momento de loucura: corre em direção à bola e a chuta longe. Torna-se símbolo de um futebol ainda distante dos padrões europeus e sul-africanos, mas Mwepu expressava na verdade o desconforto com uma derrota que não seria bem recebida pelo então ditador do Zaire, Mobutu Seko.
No vídeo, o chute de Mwepu, goleiro do Zaire, no jogo contra o Brasil.
Tradução Carolina de Assis
Linha do tempo produzida por Knightlab, associação entre a Universidade Northwestern e escolas de jornalismo e de ciências aplicadas nos Estados Unidos para desenvolver projetos de inovação em mídia informativa.
Samuel na Copa
Pela segunda vez na história do Mundial de Futebol, o Brasil é o país anfitrião do maior evento esportivo do planeta. Talvez a principal diferença entre o torneio de 1950 e o de 2014 esteja no alcance e na instantaneidade com que bilhões de pessoas acompanham os jogos, resultados e fatos relacionados à Copa.
Ao mesmo tempo em que o futebol e as Copas ganharam cada vez mais adeptos e torcedores, maior passou a ser a cobertura da mídia do evento que acontece a cada quatro anos. No caso do Brasil de 2014, são cerca de 20 mil jornalistas de todos os cantos do mundo relatando, fotografando e mostrando o que acontece no país.
A Samuel, agora em sua versão eletrônica, também dedica o período da Copa a trazer o que a mídia independente do Brasil e do mundo vem registrando sobre o antes, o durante e o depois do evento, seus participantes e espectadores. Textos e vídeos postados diariamente darão a medida dos diferentes olhares e observações que irão marcar o cotidiano dos 32 países representados no evento.
Veja todo o material do especial Samuel na Copa:
A intimidade dos brasileiros com a essência do futebol
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Honduras: onde o futebol explica a sociedade
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