Não é só Aécio Neves e seu PSDB que mostram ares de revolta pela derrota eleitoral, a quarta consecutiva desde 2002. Na própria base governista, muitos parlamentares de outros partidos sonhavam em ver o PT fora do páreo para recuperar um suposto prestígio perdido.
Não à toa, a convenção do PMDB cravou apoio à Dilma Rousseff por apenas 60% dos votos. Para quem trazia na bagagem o cargo de vice-presidente e cinco ministérios, foi um resultado emblemático. Isto sem falar em personagens que desertaram da base aliada, preferindo trilhar caminho próprio.
Agência Efe
Dilma Rousseff busca a estabilização de base aliada
O mais promissor desses dissidentes foi Eduardo Campos, agora desaparecido. Marina Silva já era carta marcada. Assim, aquela estrutura política de apoio mais progressista nas eleições anteriores de Lula e Dilma perdeu alcance e homogeneidade ideológica.
Portanto, garantida a reeleição, resta à presidenta e ao PT recompor suas instâncias de apoio parlamentar.
E como fazer isso sem contar com lideranças que podem unir ao menos grupos mais fiéis dentro de seus partidos e disputar votações em favor do Planalto? É nessa direção, visivelmente frustrante para a esquerda, que Dilma 2 nomeou parte de seu ministério.
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O presidencialismo de coalização não deixa muita margem de manobra para qualquer governo, especialmente nas situações onde a maioria se mostra tênue e oscilante e, acrescente-se, onde existe uma mídia ideologicamente hostil e em sintonia com a oposição que não aceita mais uma derrota. O primeiro teste será a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados.
Foi o melhor que Dilma pode fazer? Ninguém saberá hoje. Daqui seis meses, um ano, talvez. Quem sabe nomes de expressão nacional, fora dos partidos, tivessem um eco de credibilidade maior e ressoassem melhor ao escasso capital político acumulado na vitória de 26 de outubro.
Na dúvida, a presidenta preferiu o certo que nunca é tão certo assim, mas presume uma lealdade daqui para frente. Suficiente quem sabe para tirar de seus ombros a imagem de uma liderança fragilizada por uma vitória apertada, por uma oposição encorajada pelo ódio antipetista e por denúncias de corrupção na Petrobras, o carro-chefe da alma brasileira.
Marco Piva é jornalista.