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Nem a gata resiste
Os modismos, se não forem reinventados, morrem. E esse parece ser o espírito do onipresente “selfie”: em casa, na praia, nas reuniões, nas férias e agora no marketing.
Em janeiro, na conferência da Associação Nacional de Executivos de Programas de Televisão (NATPE 2015), nos Estados Unidos, a produtora norte-americana Dori Media apresentou o “The Selfie Challenge”, um formato de programa para TV. O “Desafio do Selfie” é o projeto de um reality show que segue dois grupos de amigos que percorrem diferentes lugares no mundo, competindo entre si com selfies enviadas em tempo real. Com o passar dos episódios, os desafios se complicam até chegar ao vencedor.
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“Como fenômeno, o selfie explodiu em 2014, com a foto que a comediante norte-americana Ellen DeGeneres fez durante a cerimônia do Oscar. O sucesso desse formato estético se baseia na necessidade de aprovação que nós temos: ele nasceu para obter curtidas nas redes sociais, apesar de agora seu uso ter se transformado em uma ferramenta de posicionamento para muitas marcas”, analisou Paola de Caro, sócia da agência criativa argentina Cuko, que utilizou o selfie como recurso de marketing para reposicionar a marca de um hotel em Punta del Este. “Esta é a linguagem que as pessoas usam para contar sobre suas férias”, explica De Caro.
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Selfie no iPad: com tela ampla, aplicativos e uso intuitivo, tablets são novos queridinhos dos amantes do autorretrato
Há dados que corroboram a afirmação. Segundo um estudo de mercado da empresa de tecnologia Intel na Argentina no fim de 2014, 40% dos consumidores pretendiam comprar um tablet. Por quê? “O que era raro até pouco tempo atrás, hoje está na moda: usar o tablet como câmera fotográfica durante as férias. Cada vez mais famílias usam seu tablet para um selfie na praia ou numa visita a um museu, e em seguida aproveitam a ampla tela para ‘folhear’ o álbum”, explica o relatório com os resultados da pesquisa, revelando que 52% dos argentinos que responderam ao estudo preferem tirar autorretratos em festas ou nas férias. Dado que pode ter relação com o fato que o Instagram foi a rede social que mais cresceu em número de usuários em 2014 no país, com uma alta de 9%.
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Ichiro Guerra / Comitê de Campanha Dilma Rousseff / Flickr
A presidenta Dilma Rousseff faz selfie com admiradores em Salvador durante campanha em outubro de 2014: políticos também curtem
Os aplicativos são outra parte da história do formato fotográfico: Camera Candy, Lomo e Frontback propiciam a disseminação de selfies nas redes sociais. “Os tablets são dispositivos pensados para o consumo de arquivos multimídia. Eles permitem respostas rápidas e são ideais para tirar fotos de forma ágil e em seguida repassar ou editar o álbum com conforto com a família em evidência na ampla tela. Além disso, são especialmente intuitivos para as crianças, que, com aplicativos simples podem corrigir e melhorar fotos com facilidade”, explicou Marisol de la Fuente, gerente de comunicação da Intel, sobre o fenômeno que parece não distinguir entre faixas etárias nem classes sociais. “Hoje a penetração dos smartphones nas periferias aumentou substancialmente, equiparando-se aos consumos históricos que metrópoles como Buenos Aires fazem da tecnologia. Até pouco tempo atrás, havia diferenças substanciais entre a capital e a Grande Buenos Aires: isso agora já não acontece mais”, acrescenta De Caro.
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Há usos e usos para os selfies. Assim como os simples mortais tentam dar resposta à pulsão de transcender, há os interessados em utilizá-los para se reposicionar. “Todas as campanhas políticas usam estratégias hedonistas. O que o autorretrato fez foi dar naturalidade a essa imagem e um tipo de aproximação por identificação com as pessoas. A presidenta Cristina Fernández já figurou em vários e Sergio Massa, seu opositor, é viciado em selfies”, comenta Paola del Bosco, doutora em Filosofia e especialista em educação e valores.
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Praia, amigos e pau de selfie
E como se trata de consumo, a tecnologia tampouco descansa na corrida para somar produtos correlatos. Quando tudo parecia morrer no ângulo máximo que o braço alcançava, chegou o bastão de selfie, um dispositivo que permite fazer a fotografia a uma distância maior. Na Inglaterra seu uso foi proibido em estádios, por razões de segurança. Mesmo assim, para a revista norte-americana “Time”, o polêmico pau de selfie foi apenas “a invenção mais importante de 2014”.
Os selfies chegaram lá: são o boom do início deste século. O gênero trouxe mudanças profundas na forma de ser no mundo dos vivos com acesso a internet e presença em redes sociais. Agora, tirar uma foto está ao alcance da mão de uma maioria que conhece seu melhor perfil e o filtro adequado para cobrir as imperfeições. É, além disso, uma ferramenta que tem se tornado fundamental para marcas e comunicadores, e um elemento a mais de que desconfiar: uma coisa que aprendemos com a velocidade de um clique é que, na maioria das vezes, nada é exatamente como aparece na tela.
Tradução: Mari-Jô Zilveti
Matéria original publicada no site argentino Veintitrés.