O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez, nesta quinta-feira (13/07), seu primeiro pronunciamento público após a condenação em primeira instância no “caso do tríplex do Guarujá”. Na sede nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), em São Paulo (SP), Lula criticou a atuação do juiz Sergio Moro e da imprensa comercial, e afirmou que irá se candidatar a presidente da República novamente: “Se alguém pensa que com essa sentença me tirou do jogo [político], eu quero dizer que estou no jogo”.
O petista complementou indicando: “Quero dizer ao meu partido que, a partir de agora, eu vou reivindicar a minha candidatura para presidente em 2018”. “Senhores da 'Casa Grande', permitam que o povo da 'Senzala' faça o que vocês não têm competência para fazer”, reforçou.
“Só quem tem o direito de decretar meu fim é o povo brasileiro”, enfatizou Lula, em referência aos processos judiciais e políticas que vão contra ele.
Em relação a Moro, o ex-presidente apontou que sofre perseguição desde o início do processo. “Eles já estavam com a concepção da condenação pronta”, declarou. “Eu ficaria mais feliz se eu fosse condenado com uma prova. Não sou dono de tríplex, não tenho tríplex”, refirmou o petista, diante de cerca de 40 jornalistas e outras dezenas de apoiadores, que se concentravam do lado externo do prédio. “Eu não sei como é que alguém consegue escrever quase 300 páginas sem nenhuma prova contra quem ele pretende acusar”.
Já sobre os meios de comunicação, o petista foi enfático ao dizer que “o ódio está disseminado nesse país, e a Globo é a disseminadora do ódio”.
Coletiva
O pronunciamento começou ao meio-dia e terminou pouco antes da uma da tarde. O ex-presidente foi condenado, em primeira instância, na última quarta-feira (12/07), a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, foi quem abriu a coletiva de imprensa: “A sentença carece de provas e é absolutamente política. Coincidentemente, ela acontece um dia após a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] ser rasgada”, disse a senadora, em referência à aprovação da reforma trabalhista no Senado, na última terça (11/07).
Sem esconder indignação com o conteúdo da sentença, Lula aproveitou a oportunidade para criticar a cobertura da mídia corporativa sobre o golpe de 2016 e a operação Lava Jato: “Esse processo começou com uma mentira do jornal O Globo“, disse, completando: “Eu sempre tive a consciência de que, se o Lula pudesse ser candidato [em 2018], o golpe não fechava”.
Em relação à postura do juiz federal de primeira instância Sergio Moro, o petista também foi enfático: “Nenhuma verdade era levada em conta (durante o processo). O Moro não precisa contar conta para mim. Precisa prestar contas à história”.
Partido dos Trabalhadores / Flickr CC
O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva durante pronunciamento nesta quinta-feira (13/07) na sede do PT em São Paulo
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Assim como prometeram os advogados de Lula na quarta-feira (12/07), além de aguardar o julgamento do recurso no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), a defesa deve recorrer às Nações Unidas e a cortes internacionais para impedir que o ex-presidente seja condenado sem provas.
“A minha indignação como cidadão brasileiro não me faz perder a crença de que nesse país ainda existe justiça”, ressaltou Lula, ao final da coletiva, quando se lançou como pré-candidato à Presidência em 2018 pelo PT.
Relembre o caso
Lula foi acusado pelo Ministério Público Federal de receber R$ 3,7 milhões em propina referente a três contratos entre a empreiteira OAS e a Petrobras. Um apartamento triplex no Guarujá, litoral paulista, seria supostamente entregue como parte dessas negociações. Segundo a Promotoria, que pediu sua prisão, Lula teria cometido os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
“O Moro tem para comigo um otimismo que nem eu tenho”, ironizou o ex-presidente, logo ao início da coletiva. Lula se refere a um dos parágrafos que Sérgio Moro incluiu na sentença, recomendando que o petista seja impedido de assumir cargos públicos até 2036.
A defesa afirma que não havia provas para a condenação, e que esta simboliza a perseguição política sofrida por Lula nos últimos três anos.
“Na falta de provas, como foi reconhecido pelo próprio Ministério Público Federal (MPF), o juiz aplicou aquilo que o procurador chama de teoria ‘explacionista’, que significa condenação sem prova, apenas com explicações, o que contraria a Constituição Federal”, criticou o advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin.
A sentença do juiz Sérgio Moro, em primeira instância, não impede Lula de se candidatar à Presidência da República em 2018. Para que isso aconteça, a condenação terá que ser mantida em segunda instância, no TRF-4. O ex-presidente aguardará o julgamento do recurso em liberdade.
Publicado originalmente no site Brasil de Fato